Gazeta de Notícias -
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal |
Sexta-feira, 21 de Dezembro de 2012
O célebre Bispo de Nova Iorque, Fulton Sheen,
recomendava: “ Livros, revistas, jornais - são como inúmeras pessoas que
encontramos nos carros eléctricos, nos cinemas, nas feiras e nas festas
mundanas. Como é evidentemente impossível travar relações com essa gente toda,
procedemos a uma selecção.” -“ Os Problemas da Vida” Se é
mister seleccionar amigos é, igualmente necessário, escolher na multidão que
enxameia os escaparates do livreiro, obras que, pelo conteúdo e valor
literário, servem para a formação, não só moral, mas também intelectual.
Muitas vezes o livro que agrada na juventude,
não é apreciado em idade adulta. Gostos, interesses, alteram-se, consoante,
idade, educação e desenvolvimento intelectual.
Nem
sempre os mestres de literatura, pelo facto de o serem, devem ser lidos.
Platão,
avisa na “República”- Livro lll:
“
Pediremos a Homero e aos outros poetas que não levem a mal que apaguemos estas
passagens, e todas do mesmo género” - e explica a razão, - “ não porque lhes
falte poesia e não soem aos ouvidos da maioria; mas quanto mais poética são
menos convêm deixar que sejam ouvidas por crianças e homens.”
O bom escritor, pode ser mau conselheiro.
Ninguém se encontra imune. Não é verdade que Cervantes declara que Don Quixote,
por ler muitos livros de cavalaria “ se enfracó tanto en su lectura, que se le
pasabom las noches leyendo de claro en claro, y los dias de turbio em turbio.”
“Del
poco dormir y del mucho leer se le secó el cerebro de manera que vino a perder
el juicio.”
Perderam,
também, o juízo, os pais, que inadvertidamente, metem nas mãos dos filhos,
livros malsãos, por estarem na moda e terem sido premiados, sabe Deus como, e
porquê.
É que o livro tanto pode perturbar a mente,
como modificar o carácter. Santo Agostinho, após ler obra de Cícero,
converteu-se ao cristianismo ao analisar textos de S. Paulo.
Há livros que elevam. Há livros que podem ser
manuseados desde a infância. Há livros que formam e informam; e há livros que
melhor fora não terem saído do prelo.
Durante anos, meu pai, que era jornalista,
foi adquirindo imensa biblioteca, livros que, segundo confessava, raras vezes
os lia.
Comprara-os, seduzido pelo nome do autor e
opinião da critica.
No
andar dos anos, amadureceu. Escolheu na “floresta”, uma dúzia de “ amigos
mudos”, como dizia Padre Manuel Bernardes, e lia-os e relia-os; e sempre que os
abria, encontrava, segundo afirmava, pensamentos, frases, pareceres, que lhe
tinham escapado.
Peneirar o trigo da ervilhaca, limpar o grão
que vai para a eira, não é fácil; por isso é que professor responsável ou
sacerdote culto, pelo menos na adolescência, devem ser consultados, se não se
quiser andar à deriva, comprando obras, que em vez de instruírem e formarem,
pervertem a alma e cavam perniciosas marcas, que podem durar uma vida.
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