Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, fim de tarde amarelado da última quinta-feira, 11 de agosto de 2011. Numa caríssima cafeteria no último andar, um famoso senador da base aliada, com a Bíblia aberta sobre a pequena mesa, pregava a alguém que parecia ser um parente ou assessor (ou ambos!). Minutos depois, um renomado deputado federal, também governista, se achegou à dupla e pediu um café-com-leite. Depois de muitos risos e cumprimentos políticos falsos, do tipo “tapinha nas costas”, a chapa esquentou. O assunto não poderia ser outro: o estilo nada diplomático da presidenta Dilma Rousseff.
O deputado desancou em lamúrias. Reclamou que Dilma não o recebe, que o gabinete presidencial não retorna suas ligações e que, mesmo ocupando um espaço importante nas lideranças do Congresso Nacional em uma das maiores legendas, a presidenta insiste vê-lo apenas como um membro insignificante do baixo clero. A única reação esboçada pelo senador foi arquear uma das sobrancelhas e fazer aquela cara de quem diz: “Que coisa, né?! Fazer o que?!” O deputado seguiu seu novelo de protestos, como que falando a um interlocutor direto da Presidência. Bastante indelicado, o senador baixou a cabeça e voltou atenção para um ofício à sua frente. Instaurou-se à mesa aquele clima de visível desconforto.
O parlamentar não se fez de rogado e bradou, em tom quase ameaçador: “Olha, já são rotineiros os comentários na Câmara de que a presidenta não vai concluir o mandato. A coisa está ficando feia!” O senador ergueu a cabeça e, finalmente, parecia lhe dar a devida atenção: “Quem está falando isso?”, perguntou. O deputado sorriu: “Todo mundo! A mulher está esticando a corda e vai arrebentar! A base está uma zona, está caindo! Por enquanto, o protesto é não votar nada. Mas, pode apostar, a casa vai incendiar quando começar a rebelião de votar. Vai arrebentar o governo!” Ambos seguiram em prosa tensa, até que deputado concluiu: “Até o Collor está dizendo que já viu esse filme antes. O presidente Lula precisa entrar rápido nesse circuito, senão vai dar curto!”
Diálogos como esse ganham cada vez mais força nos corredores palacianos. O estilo pouco político, nada diplomático e totalmente intransigente de Dilma Rousseff está fazendo insurgir uma horda de revoltosos, dispostos a colocar a cabeça da presidenta a prêmio. Deputados e senadores estão furiosos com o descaso às demandas e uma total falta daquele “afeto-politiqueiro-paternalista” que lhes era disposto pelo ex-presidente Lula. Ministros, governadores e prefeitos estão revoltados com a centralização administrativa da presidenta, que tem travado a máquina e engavetado milhares de projetos considerados estratégicos em véspera de eleições municipais. Até o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso, estaria demonstrando aborrecimento com o fato de Dilma sequer retornar seus telefonemas. A classe política está realmente assustada.
Como todo político revoltado torna-se um potencial falastrão, o que antes eram apenas conversas ao pé do ouvido, agora já são debates megafônicos nos cafezinhos de aeroportos. Diariamente munida pelos próprios aliados, a imprensa já ressoa verdadeiras pérolas do cenário político no Palácio do Planalto, em especial aquelas que tangem sobre o perfil duro e repressor de Dilma. Um clássico recente, que movimentou uma conversa entre jornalistas na TV, narra o dia em que a presidenta mandou o general-ministro José Elito Siqueira, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, sair do elevador para que ela subisse sozinha.
Nesse bojo, a semana começou com um jornalista revelando um suposto livro em construção com as reprimendas da presidenta aos seus principais auxiliares. Entre elas, destaca-se o tratamento destinado a três ministros de Estado: o dia em que Dilma mandou a ministra Maria do Rosário calar a boca; a ameaça ao ministro Antônio Patriota de colocar na rua toda equipe daquilo que teria chamado de “Itamarateca”; e o deboche à ministra Ideli Salvatti, que já na primeira coletiva como titular das Relações Institucionais, só falara bobagens. “Imagine nas próximas...”, teria dito Dilma em reprovação à atuação de sua ministra.
Esse clima tensionado pode até refletir uma presidenta forte e disposta a não ficar presa aos afagos medíocres que perpassam a história política brasileira. Em tese, isso parece ser positivo, visto o péssimo nível dos membros dos poderes instituídos na República. Mas só em tese. Porque na vida real, com o presidencialismo franciscano praticado em Brasília, o extremo loteamento fisiológico da máquina administrativa e a avalanche ininterrupta do casos de corrupção endêmica, esse estilo radical coloca a gestão Dilma Rousseff em perigo real e imediato. Da fantasia de “faxineira”, pode migrar para o posto de “faxinada”. A presidenta não está repetindo a história do filme protagonizado pelo ex-presidente Collor. Mas, nessa toada, seu fim tende a ser o mesmo: o impeachment.
HELDER CALDEIRA - Escritor, Colunista Político, Palestrante e Conferencista
www.magnumpalestras.com.br – heldercaldeira@estadao.com.br
*Autor do livro “A 1ª Presidenta” (Editora Faces, 2011, R$ 29,90), primeira obra publicada no Brasil sobre a trajetória política da presidente Dilma Rousseff e que já está na lista dos livros mais vendidos de 2011 no país.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
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